"O nome do vento", tem o primeiro pré-requisito para um bom livro uma linda e bem feita capa, capaz de chamar a atenção de qualquer um que a veja, o fator principal que me levou a compra-lo. Obviamente, existe o famoso ditado "Não se julga um livro pela capa", porém este ditado nunca se aplicou no modo em que eu decido os meus livros. Além do mais, eu posso afirmar que as melhores histórias e sagas literárias, que eu já li, foram escolhidos unicamente pela capa, e esta não foi uma exceção.
Características:
Sinopse: “Da infância numa trupe de artistas itinerantes, passando pelos anos vividos numa cidade hostil e pelo esforço para ingressar na escola de magia, O nome do vento acompanha a trajetória de Kote e as duas forças que movem sua vida: o desejo de aprender o mistério por trás da arte de nomear as coisas e a necessidade de reunir informações sobre o Chandriano - os lendários demônios que assassinaram sua família no passado. [...]
Nesta provocante narrativa, o leitor é transportado para um mundo fantástico, repleto de mitos e seres fabulosos.”
Nº de páginas: 656.
Publicação: 2009.
Opnião
O livro, em alguns momentos, apresenta o narrador em 3ª pessoa, mas em sua maioria em 1ª pessoa, sendo neste momento o narrador o protagonista, Kvothe, isso se deve a ter uma história sendo contada dentro de outra história. Este personagem principal atende por vários nomes:
“Meu nome é Kvothe, com pronúncia semelhante à de ‘Kuouth’. Os nomes são importantes, porque dizem muito sobre as pessoas. Já tive mais nomes do que alguém tem direito de possuir.
Os ademrianos me chamam de Maedre, o que, dependendo de como é falado, pode significar ‘A Chama’, ‘O Trovão’ ou ‘A Árvore Partida’.
‘A Chama’ é óbvio, se você já me viu. Tenho o cabelo ruivo, vermelho vivo. [...]
‘O Trovão’ é um nome que atribuo à voz forte de barítono e a uma longa formação no palco, em idade precoce.
Nunca pensei em ‘A Árvore Partida’ como muito significativo. Mas, em retrospectiva, suponho que poderia ser considerado ao menos parcialmente profético.
Meu primeiro mentor me chamava de E'lir, porque eu era inteligente e sabia disso. Minha primeira amada de verdade me chamava de Duleitor, porque gostava desse som. Já fui chamado de Umbroso, Dedo-Leve e Seis-Cordas. Fui chamado de Kvothe, o Sem-Sangue; Kvothe, o Arcano; e Kvothe, o Matador do Rei. Mereci esses nomes. Comprei e paguei por eles. [...]
Vocês devem ter ouvido falar de mim.” (Capitulo 7, Sobre primórdios e os nomes das coisas. Página 58.)
Logo no inicio da minha leitura já fiquei fascinado com a história e com o mundo criado pelo autor, incluindo novos idiomas, um mapa exclusivo, e um novo sistema econômico, que não perde nada para com os de George R. R. Martin, um dos principais representantes do gênero. Além de ter uma divisão social bem estruturada e coerente, sem apresentar nenhuma inconsistência. O texto é bem escrito e fluido, com pequenos erros de tradução e de digitação, mas sem comprometer a leitura e a compreensão.
O livro também tem uma série de personagens secundários, que não deixam nada a desejar, como o sinistro Bast, a misteriósa Denna, e a meiga e gentil Auri. Todos eles são bem construidos e detalhados, mas mesmo assim deixam os leitores querendo saber mais deles.
É um livro que eu recomendo para todo leitor, do gênero fantasia, que goste de um mundo detalhado, criativo, cheio de mistérios e aventuras. O segundo livro da série se denomina "O Temor do Sábio", que irei comentar futuramente.
Estes são alguns dos meus trechos favoritos do livro:
“NOITE OUTRA VEZ. A Pousada Marco do Percurso estava em silêncio, e era um silêncio em três partes.
A parte mais óbvia era uma quietude oca e repleta de ecos, feita das coisas que faltavam. Se houvesse vento, ele sussurraria por entre as árvores, faria a pousada ranger em suas juntas e sopraria o silêncio estrada afora, como folhas de outono arrastadas. Se houvesse uma multidão, ou pelo menos um punhado de homens na pousada, eles encheriam o silêncio de conversa e riso, do burburinho e do clamor esperados de uma casa em que se bebe nas horas sombrias da noite. Se houvesse música ... Mas não, é claro que não havia música. Na verdade, não havia nenhuma dessas coisas e por isso o silêncio persistia.
Dentro da pousada, uma dupla de homens se encolhia num canto do bar. Os dois bebiam com serena determinação, evitando discussões sérias ou notícias inquietantes. Com isso, acrescentavam um silêncio pequeno e soturno ao maior e mais oco. Ele formava uma espécie de amálgama, um contraponto.
O terceiro silêncio não era fácil de se notar. Se você passasse uma hora escutando, talvez começasse a senti-lo no assoalho de madeira sob os pés e nos barris toscos e lascados atrás do bar. Ele estava no peso da lareira de pedra negras, que conservava o calor de um fogo há muito extinto. Estava no lento vaivém de uma toalha de linho branco esfregada nos veios da madeira do bar. E estava nas mãos do homem ali postado, que polia um pedaço de mogno já reluzente à luz do lampião.
O homem tinha cabelos ruivos de verdade, vermelhos como a chama. Seus olhos eram escuros e distantes, e ele se movia com a segurança sutil de quem conhece muitas coisas.
Dele era a Pousada Marco do Percurso, como dele era também o terceiro silêncio. Era apropriado que assim fosse, pois esse era o maior silêncio dos três, englobando os outros dentro de si. Era profundo e amplo como o fim do outono. Pesado como um pedregulho alisado pelo rio. Era o som paciente – som de flor colhida – do homem que espera a morte.” (Prólogo, Um silêncio de três partes. Página 9.)
“A MAIOR FACULDADE QUE nossa mente possui é, talvez, a capacidade de lidar com a dor. O pensamento clássico nos ensina sobre as quatro portas da mente, e cada um cruza de acordo com sua necessidade.
Primeiro, existe a porta do sono. O sono nos oferece uma retirada do mundo e de todo o sofrimento que há nele. Marca a passagem do tempo, dando-nos um distanciamento das coisas que nos magoaram. Quando uma pessoa é ferida, é comum ficar inconsciente. Do mesmo modo, quem ouve uma notícia dramática comumente tem uma vertigem ou desfalece. É a maneira de a mente se proteger da dor, cruzando a primeira porta.
Segundo, existe a porta do esquecimento. Algumas feridas são profundas demais para cicatrizar, ou profundas demais para cicatrizar depressa. Além disso, muitas lembranças são simplesmente dolorosas e não há cura alguma a realizar. O provérbio “O tempo cura todas as feridas” é falso. O tempo cura a maioria das feridas. As demais ficam escondidas atrás dessa porta.
Terceiro, existe a porta da loucura. Há momentos em que a mente recebe um golpe tão violento que se esconde atrás da insanidade. Ainda que isso não pareça benéfico, é. Há ocasiões em que a realidade não é nada além do penar, e, para fugir desse penar, a mente precisa deixá-la para trás.
Por último, existe a porta da morte. O último recurso. Nada pode ferir-nos depois de morrermos, ou assim nos disseram.” (Capítulo 18, Estradas para locais seguros. Página 124.)